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Segurança: outro problema das Olimpíadas no Brasil

Com a crise financeira, número de roubos na rua vem aumentando

O governo brasileiro está diante do seu maior desafio em termos de grandes eventos: garantir a segurança de mais de 15 mil atletas e de um público estimado em sete milhões de pessoas nos locais de competições olímpicas – entre turistas, voluntários e profissionais.

Os 28 dias de Olimpíadas e Paralimpíadas acontecerão principalmente no Rio de Janeiro, cidade que vive um aumento da violência desde o ano passado, segundo estatísticas do Instituto de Segurança Pública. Só em abril, por exemplo, foram registrados 9.158 roubos de rua, quase 30% a mais que o mesmo período de 2015.

A falta de segurança é tão grande, que o governo estadual do Rio de Janeiro se viu obrigado a decretar calamidade pública, no último dia 17 de junho, para conseguir negociar com a União a liberação de cerca de US$ 1 bilhão para segurança dos Jogos Olímpicos.

Atolado em uma crise financeira, o governador interino Francisco Dornelles argumentou que não teria condições de cumprir com as obrigações das Olimpíadas e que temia o colapso na segurança, saúde e mobilidade.

Nos últimos dois meses, um caso de estupro coletivo no Morro do Barão, zona oeste do Rio, e um tiroteio durante um ataque à Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) dos morros Fallet e Fogueteiro, em Santa Teresa, no centro, também repercutiram na imprensa internacional.

Questionada, a Secretaria de Estado de Segurança afirma que esses casos não comprometem a integridade dos turistas que estarão na cidade durante os Jogos.

“O Rio de Janeiro tem tradição em sediar grandes eventos de natureza cíclica como o carnaval e réveillon, bem como um conjunto de megaeventos internacionais, sem que a questão da segurança pública tenha representado um problema”, disse ao Diálogo Chino o subsecretário extraordinário de segurança para grandes eventos do governo estadual, Roberto Alzir.

“Brasileiros, estrangeiros e atletas estarão em segurança, num ambiente que tem uma preparação específica das forças de segurança pública, com planos para cada uma das instalações, que tem todo um aparato para garantir que o evento transcorra na mais absoluta normalidade”, afirmou Andrei Rodrigues, da Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos, ligada ao Ministério da Justiça.

Roberto Alzir, da secretaria estadual, diz que o órgão tem recebido “avaliações muito positivas sobre o esquema de policiamento implantado e sobre a sensação de segurança dos visitantes nacionais e estrangeiros”.

Para as Olimpíadas e Paralimpíadas, 85 mil profissionais estarão nas ruas, dentre eles cerca de 10 mil da Força Nacional, composta por policiais militares e civis, peritos e bombeiros especialmente treinados para trabalhar em grandes eventos.

Além disso, 38 mil militares das Forças Armadas foram destacados para o período. A estratégia de policiamento ostensivo é alvo de críticas.

“Toda a lógica para dar segurança para um grande evento é colocar um contingente imenso de policiais nas ruas. Isso é incompatível com o espírito do que deveria ser o momento de uma Olimpíada”, critica Itamar Silva, um dos diretores do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).

Na visão de Silva, os turistas acompanharão os Jogos com normalidade nos espaços destinados às competições.

“Mas acho que a cidade, os moradores dela, irão viver um momento de restrição de mobilidade, uma sensação de opressão, já que veremos muitos policiais na rua para dar essa sensação de segurança”, completa. Para o pesquisador, garantir a segurança apenas dos turistas é muito pouco.

“A cidade, para ser digna de receber uma Olimpíada, tem que ser digna para seus cidadãos. Porque quando os cidadãos se sentem seguros, eles passam essa sensação verdadeira para quem vem visitar. Mas não é o caso do Rio de Janeiro”.

Investimento e combate ao terrorismo

Na lista de riscos elaborada pelo Ministério da Justiça, a ameaça terrorista está no topo. A estratégia para prevenir ataques é o uso da inteligência.

Todo o trabalho é liderado pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), que coordena a elaboração de análises de risco, a produção do conhecimento, a prevenção ao terrorismo e a difusão das informações. O secretário Andrei Rodrigues prefere não comentar se existem ameaças concretas.

“Independente do risco concreto, vamos receber no Brasil o evento de uma importância tal que traz essa visibilidade. Por isso adotamos as melhores práticas e políticas globais de prevenção.”

Especificamente para os Jogos Olímpicos, o país criou o Centro Integrado Antiterrorismo. Comandado pela Polícia Federal, ele vai abrigar policiais estrangeiros da área de inteligência com experiência no combate ao terrorismo.

“Essa cooperação policial internacional começou na Copa das Confederações com oito países. Na Copa do Mundo já eram 37 países e, agora, contamos com 57 países colaborando conosco”, contou Rodrigues.

Para fazer a segurança dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, o governo brasileiro destinou US$ 235 milhões milhões. Desde a Copa do Mundo, US$ 500 milhões foi investido em segurança dos grandes eventos, segundo o Ministério da Justiça.

“Todo o investimento para a segurança dos Jogos tem como premissa o posterior retorno à sociedade, como forma de legado para o cotidiano da segurança pública”, justifica.

Policiamento internacional

Uma das táticas para garantir a segurança dos visitantes estrangeiros é a presença de policiais internacionais nas ruas. Criado para a Copa do Mundo, o Centro de Cooperação Policial Internacional vai receber profissionais de mais de 50 países e instituições, como a norte-americana Interpol, que circularão com seus próprios uniformes.

“A cooperação tem o duplo efeito de dar aos estrangeiros uma sensação de proteção maior, ao reconhecer o policial pelo uniforme e, ao mesmo tempo, inibe abusos por parte dos estrangeiros, que estarão sob o olhar das autoridades de seu país”, afirma o governo brasileiro.

Eles devem circular sem armas, acompanhados de policiais brasileiros, por locais de aglomeração do público de seus países. De casa, cerca de cinco bilhões de espectadores irão acompanhar as competições e as notícias sobre o Rio de Janeiro durante os Jogos.

Quando tudo acabar, a cidade terá que pensar numa agenda pós-olímpica, defende Itamar Silva, do Ibase.

“Vamos ter que voltar a temas ‘velhos’, como mobilidade e segurança, ao que foi prometido como legado das Olimpíadas. Teremos que pensar que cidade é essa que vai existir”.

Serão tempos difíceis, prevê Silva, ressaltando a conjuntura nacional “muito delicada, com muitas incertezas”.