Comércio & Investimento

Argentina endurece posição contra pesca ilegal

Navio chinês afundado na costa argentina é exemplo disso

Nesta segunda-feira, a guarda costeira argentina afundou uma embarcação chinesa que pescava ilegalmente nas águas territoriais do país, prejudicando as relações diplomáticas e indicando uma postura mais dura contra uma prática para a qual oficiais corruptos costumavam fazer vista grossa. A embarcação de pesca “Lu Yan Yuan Yu 010” teria se aproximado de águas argentinas e tentado forçar uma colisão com os barcos da guarda costeira antes de retornar para águas internacionais, de acordo com a mídia local. Depois de tentar comunicações via rádio em inglês e espanhol, a guarda argentina disparou tiros de alerta. Como não obtiveram resposta dos chineses, os tripulantes do navio receberam ordens de atirar diretamente. A embaixada da China em Buenos Aires qualificou o incidente como “sério” e exigiu que a Argentina iniciasse uma investigação imediatamente, de acordo com uma declaração divulgada na terça-feira. O capitão do navio pesqueiro e três dos 32 membros de sua tripulação, todos resgatados, foram levados pela Marinha argentina para prestar depoimento na cidade de Rawson, na província de Chubut, sul da Argentina. “Isto começou como uma infração e terminou como crime”, disse o juiz federal Hugo Sastre. Navios pesqueiros chineses atuam tanto legalmente quanto de forma ilícita no mundo todo e, em grande parte, são atraídos para o Atlântico sul pela alta rentabilidade do comércio de lula. Somente na China, os níveis registrados de importação do molusco chegam a US$ 500 milhões anualmente, de acordo com estimativas.  A lula é uma parte importante da cadeia alimentar marinha local, servindo de alimento para baleias, peixes maiores, pinguins e outros carnívoros. Este episódio é um grande teste para ver como o novo presidente argentino, Mauricio Macri, irá cuidar das relações com a China. No governo de sua antecessora, Cristina Kirchner, a China recebeu tratamento preferencial, ganhando grandes contratos de energia e infraestrutura sem licitação. Diego Guelar, novo embaixador argentino em Pequim, disse recentemente no Congresso Nacional que seria “loucura” uma ruptura no relacionamento com a China. “É a nossa principal financiadora, nossa principal investidora e nosso principal mercado”, disse. Ao mesmo tempo em que se estreitam as relações dos altos escalões, a cooperação clandestina entre oficiais argentinos corruptos e pescadores chineses já acontece há vários anos. Há muito tempo, oficiais da guarda costeira da Argentina têm tolerado e mesmo agido em conluio com atividades de pesca ilegal, avisando os pescadores chineses sobre a aproximação de patrulhas, disse o jornalista Roberto Maturana ao chinadialogue. Corrupção e conluio são comuns Milko Schvartzman, conservacionista marinho argentino, disse que o afundamento do Lu Yan Yuan Yu 010 foi “extraordinário”, mas acrescentou que o caso ilustra um problema generalizado que, muitas vezes, não é notificado. Inúmeras embarcações chinesas foram detidas pelas autoridades argentinas ao longo da última década, mas a última vez que uma patrulha naval afundou um navio estrangeiro foi há 15 anos. De acordo com o jornal argentino Clarín, o incidente ocorrido na segunda-feira foi o segundo envolvendo embarcações chinesas dentro de um espaço de poucos dias. Ainda assim, apesar destes exemplos, muitos outros escapam impunes. De acordo com um estudo do Fisheries Center da University of British Columbia, navios chineses de pesca em águas profundas operam sem restrição nas águas de mais de 90 países e, muitas vezes, não declaram os volumes de pesca retirados. Pagando uma módica propina, os navios muitas vezes recebem permissão para pescar sob a bandeira do país hospedeiro, além de outras infrações cometidas pelos pescadores, como repintar o casco para se parecer com o das embarcações registradas localmente. Cuspindo no prato? No ano passado, a Argentina fortaleceu suas defesas terrestre e naval com a compra de tecnologias militares chinesas, como parte de uma série de acordos firmados entre a ex-presidente Cristina Kirchner e o presidente chinês Xi Jinping. Além de caças e transportadores de pessoal, a Argentina concordou em comprar cinco embarcações de patrulha de águas costeiras. Estes barcos, chamados de “classe Malvinas” em homenagem ao nome latino-americano para as ilhas Falklands, disputadas com o Reino Unido, serão acrescentados à frota naval da guarda costeira. Na primeira missão diplomática do governo Macri, Guelar viajará para Pequim nesta semana, onde ele certamente enfrentará questionamentos sobre o incidente com o Lu Yan Yuan Lu. “Eu espero concluir bem a minha missão e fortalecer os laços com a grande nação da China, que tem se mostrado uma grande amiga e parceira”, tuitou o diplomata, assinando logo em seguida um segundo tuíte desejando “paz e prosperidade” aos seus seguidores. Reportagem adicional por Ardash Vartparonian